A história de José é um exemplo de paciência em face de
adversidade. Até aquele momento José enfrentou testes e tribulações em sua
vida com confiança completa em Deus. Mais uma vez estava em uma situação
extremamente difícil. Mais uma vez foi forçado a rejeitar os avanços da esposa
de Al Aziz, dessa vez na frente das amigas dela. José clamou a Deus por
ajuda. Disse:
"Ó Senhor meu, é preferível o cárcere ao que me incitam; porém, se não afastares de mim as suas conspirações, cederei a elas e serei um dos néscios."
José acreditava que viver na prisão era preferível a
viver na casa de Al Aziz. O ambiente estava cheio de luxúria e ambição e com
beleza e sedução ilícitas, talvez semelhante a muitas sociedades hoje.
Acreditava que a prisão seria preferível a sucumbir a fitnahao seu redor. Deus respondeu à súplica de José e o resgatou.
"E seu Senhor o atendeu e afastou dele as conspirações delas, porque Ele é o Oniouvinte, o Sapientíssimo. Mas apesar das provas, houveram por bem encarcerá-lo temporariamente."
Embora convencido da inocência de José, Al Aziz, o
ministro-chefe do Egito, colocou José na prisão. Não conseguia ver outra forma
de proteger a reputação de seu nome e posição.
José na prisão
Havia dois homens aprisionados com José que reconheceram
sua piedade e retidão. Ambos tinham sido afetados por sonhos vívidos e agora
esperavam que José fosse capaz de interpretar os sonhos para eles. Um homem
viu um sonho no qual estava produzindo vinho e o outro viu um sonho no qual
pássaros comiam pão em sua cabeça. José disse: "Informarei a vocês do
significado desses sonhos antes que a próxima refeição seja servida."
"Respondeu-lhes: Antes da chegada de qualquer alimento destinado a vós, informar-vos-ei sobre a interpretação. Isto é algo que me ensinou o meu Senhor, porque renunciei ao credo daqueles que não creem em Deus e negam a vida futura. E sigo o credo dos meus antepassados: Abraão, Isaque e Jacó, porque não admitimos parceiros junto a Deus. Tal é a graça de Deus para conosco, assim como para os humanos; porém, a maioria dos humanos não Lhe agradece."
Notem a conduta de José. Quando lhe perguntam sobre
sonhos ele imediatamente lembra que é Deus quem provê seus sustentos e também o
seu próprio conhecimento sobre interpretação de sonhos. José é muito cuidadoso
em fazer distinção entre o que vem de Deus e o que vem de si mesmo. Deixa
claro sua religião. Não acredita na religião praticada ao seu redor, mas
acredita na verdadeira religião que inclui crença na Outra Vida. José afirma
que sua família, a família de Abraão, detém o conhecimento da Unicidade de Deus
e que sua religião e a de sua família não atribui parceiros a Deus. Embora o
povo do Egito conhecesse Deus, eles escolheram adorar outras deidades como
parceiros ou intercessores.
Depois de informar a seus companheiros que deuses falsos
não têm substância e explicar a onipotência de Deus, José interpreta os
sonhos. Diz que um deles se tornará um associado próximo do rei e o outro será
crucificado e os pássaros comerão de sua cabeça.
"Ó meus companheiros de prisão, um de vós servirá vinho ao seu rei e ao outro será crucificado, e os pássaros picar-lhe-ão a cabeça. Já está resolvida a questão sobre a qual me consultastes."
José abordou o companheiro que estava destinado a ser
próximo do rei e disse "por favor, lembre-se de mim para o seu rei". Esperava
que o rei pudesse analisar seu caso, ver sua opressão e o libertar.
Entretanto, os sussurros e subterfúgios de Satanás fizeram o companheiro esquecer-se
de mencionar José e, consequentemente, ele continuou na prisão por mais alguns
anos. Os sábios do Islã têm duas opiniões diferentes sobre a natureza do
esquecimento. Ibn Katheer menciona que o companheiro esqueceu-se de mencionar
José, enquanto que outros sábios focam na possibilidade de José ter se esquecido
de buscar ajuda de Deus e, portanto, o companheiro esqueceu-se de mencioná-lo.
Qualquer que seja o caso, José permaneceu na prisão e continuou a confiar em
Deus com paciência e coragem.
O sonho do rei
O rei sonhou que estava de pé nas margens do Nilo observando
sete vacas gordas emergirem do rio, seguidas de sete vacas magras. As sete
vacas magras devoraram as gordas. Em seguida, o sonho mudou e ele observava
sete espigas verdes crescendo nas margens do Nilo. Elas desapareceram na lama
e no mesmo lugar nasceram sete espigas secas. O rei acordou chocado e com medo
e mandou buscar seus adivinhadores, sacerdotes e ministros. Eles não
conseguiram interpretar o sonho e chegaram à conclusão unânime de que era
apenas um pesadelo. O companheiro de prisão de José ouviu falar do sonho e lembrou-se
de José. Com a permissão do rei, correu para a prisão e pediu a José para
interpretar o sonho.
"Respondeu-lhe: Semeareis durante sete anos, segundo o costume e, do que colherdes, deixai ficar tudo em suas espigas, exceto o pouco que haveis de consumir. Então virão, depois disso, sete (anos) estéreis, que consumirão o que tiverdes colhido para isso, menos o pouco que tiverdes poupado (à parte). Depois disso virá um ano, no qual as pessoas serão favorecidas com chuvas, em que espremerão (os frutos)."
O rei ficou atônito com essa interpretação e José não
apenas interpretou o significado, mas também recomendou um curso de ação. O rei
ordenou que José fosse trazido. Entretanto, José se recusou a deixar a prisão e
insistiu que o mensageiro voltasse ao rei e perguntasse:
"O que aconteceu com as mulheres que feriram as mãos?"
José não
queria deixar a prisão até que sua inocência fosse estabelecida.
Fitnah é uma palavra árabe que não se traduz facilmente. Significa
um período de teste ou tribulação. Mais particularmente uma situação que
impede a adoração a Deus de maneira correta ou provoca atos de desobediência ou
descrença.