De
saída devemos destacar que essa é uma questão na qual as grandes mentes do
mundo se aplicaram e por conta da qual muitas pessoas se desencaminharam. Os
companheiros do profeta não falavam sobre questões do livre arbítrio e
determinismo. Não precisavam, porque sua fé era muito forte e não deixava
abertura para os tipos de dúvidas que se enraizam e instigam essa linha de
pensamento.
Ao mesmo tempo, dizemos que são seis os
pilares da fé que nosso profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam
sobre ele, nos descreveu. São acreditar em Deus, em Seus anjos, Seus livros,
Seus mensageiros, no Último Dia e, finalmente, no decreto divino - tanto o bom,
quanto o mau que deriva dele.
A crença no decreto divino tem quatro
dimensões:
1. Conhecimento.
Acreditamos que Deus sabe de todas as coisas. Sabe o que aconteceu e o que
acontecerá com Seu conhecimento eterno e constante. Não vem a saber dessas
coisas depois, nem está sujeito a esquecimento.
2. O registro.
Acreditamos que Deus registrou tudo que ocorrerá até o Dia do Juízo na Tábua
Preservada.
Deus diz: "Não sabias que Deus sabe o que há nos céus e na terra? Em verdade, isto está registrado num Livro, porque é fácil para Deus."
3. Vontade de Deus.
Acreditamos que Deus determinou tudo que ocorre nos céus e na terra. O que
quer que Ele deseje deve acontecer. O que quer que Ele não deseje, nunca
acontecerá.
4. Criação. Acreditamos
que
"Deus é o Criador de tudo e é de tudo o Guardião. A Ele pertencem as chaves dos céus e da terra."
Essas quatro dimensões da fé são tudo
que acreditamos sobre Deus em relação às questões do decreto e vontade divinos,
e também nos esclarecem que responsabilidade permanece para Suas criaturas. Em
outras palavras, tudo que os seres humanos dizem, fazem ou evitam de fazer,
tudo é conhecido para Deus, registrado na Tábua, desejado por Deus e criado por
Ele.
Deus diz: "Para quem de vós se quiser encaminhar. Porém, não vos encaminhareis, salvo se Deus, o Senhor do Universo, assim o permitir."
Deus diz: "Apesar de Deus vos ter criado, bem como o que elaborais?"
Acreditamos nesses aspectos do decreto
de Deus. Também acreditamos que Deus nos deu o livre arbítrio e escolhemos
livremente nossas ações. Isso está estabelecido claramente no Alcorão, da
seguinte forma:
1. Deus atesta nossa
vontade. Por exemplo,
Ele diz: "Desfrutai, pois, da vossa semeadura, como vos apraz..."
Ele diz: "Se tivessem decidido ir, ter-se-iam preparado para isso;"
2. Deus nos ordena. O
fato de Deus nos direcionar ordens e proibições só faz sentido se formos livres
para cumpri-las. De outro modo, seríamos ordenados a fazer o que está fora de
nossa capacidade, uma vez que nosso cumprimento ou não seria pré-determinado.
Portanto, não faz sentido fazer exigências de entidades que não têm habilidade
de cumprir essas ordens. Além disso, Deus diz:
"Deus não impõe a nenhuma alma uma carga superior às suas forças."
3. Deus elogia e censura.
Ele elogia os benfeitores pelo bem que fazem e censura os malfeitores pelas
coisas ruins que fazem. Também nos recompensa por conta de nossas ações. Isso
só faz sentido se executarmos essas ações por nossa própria vontade. De outra
forma não haveria o que recompensar ou punir.
4. Deus enviou mensageiros
para estabelecer Sua prova sobre a criação. Os mensageiros são:
"...alvissareiros e admoestadores, para que os humanos não tivessem argumento algum ante Deus, depois do envio deles..."
Se as pessoas não fossem livres
em suas escolhas, o argumento delas contra Deus - de que não tiveram orientação
- não se tornaria inválido após Deus enviar os mensageiros, uma vez que, se
foram compelidas em suas ações, não faria diferença se receberam ou não
orientação.
Finalmente, temos um conhecimento
prático a priori de que executamos ações por nossa própria vontade e escolha.
Decidimos o que fazer e do que nos abster, sem qualquer senso de sermos
compelidos em nossas decisões. Isso se aplica até mesmo às menores ações
deliberadas, como sentar e ficar de pé, entrar e sair de nossas casas e também
a decisões mais substanciais, como casamento e divórcio ou decidir a mudança
para outra cidade. É por isso que sentimos de maneira profunda se nos tentam
forçar a fazer algo que não queremos. E é por isso também que Deus não nos
considera legalmente responsáveis pelo que fazemos sob compulsão.
Responsabilidade por nossos atos
Um pecador não pode argumentar que
estava "destinado" a cometer um pecado, uma vez que o pecado foi realizado pela
própria escolha do pecador. Sim, Deus sabia em Seu conhecimento eterno que o
pecador perpetraria aquele pecado em particular naquele momento em particular,
e desejou permitir que acontecesse, mas Ele não forçou o pecador a fazer aquela
escolha. Além disso, só depois ficamos sabendo que estava escrito para o
pecador cometer o pecado.
É por isso que Deus diz: "Nenhum ser sabe o que ganhará amanhã."
Como podemos arranjar desculpas para nossas
ações com o que não tínhamos conhecimento de antemão? É por isso que Deus diz:
"Os idólatras dirão: Se Deus quisesse, nem nós, nem nossos pais, jamais teríamos idolatrado, nem nada nos seria vedado! Assim, seus antepassados desmentiram os mensageiros, até que sofreram o Nosso castigo. Dize: Tereis, acaso, algum argumento a nos expor? Qual! Não seguis mais do que conjecturas e não fazeis mais do que inventar mentiras!"
Em nossas ações estamos ao mesmo tempo livres e sob a determinação de Deus, ao mesmo tempo. Como Deus cria nossas ações e deseja que ajamos, nesse sentido nossas ações estão sob Sua determinação. Mas como escolhemos por conta própria quais ações levar adiante - uma escolha que Deus desejou nos dar - então somos livres em nossas escolhas e recebemos o bem ou o mal.
E Deus sabe melhor.