Valores morais como honestidade, credibilidade,
justiça e castidade são originalmente valores inatos que Deus plantou nos
corações da humanidade. Então, enviou Seus mensageiros com um sistema de vida
em conformidade com essa disposição inata para afirmá-la.
"Volta o teu rosto para a religião monoteísta. É a obra de Deus, sob cuja qualidade inata Deus criou a humanidade. A criação feita por Deus é imutável. Esta é a verdadeira religião; porém, a maioria dos humanos o ignora."
Um crente adere a esses valores
morais por causa de sua natureza, fortificada pela fé, o induz a fazê-lo e por
que a religião na qual acredita os ordena e promete uma recompensa por eles na
Outra Vida. O secularismo, por outro lado, mesmo em sua forma menos virulenta
que se satisfaz com a remoção da religião da vida política, rejeitando-a e os
valores inatos como base para legislação, enfraquece as duas fundações para
valores morais nos corações da humanidade. Quanto ao secularismo em sua forma
ateia extrema, demole completamente essas duas fundações e as substitui por
caprichos humanos, sejam os caprichos de alguns governantes em sistemas
ditatoriais ou os caprichos da maioria nos sistemas democráticos.
"Não tens reparado naquele que toma seus desejos como seu deus? Ousarias advogar por ele?"
Uma vez que caprichos e desejos
estão constantemente em mutação em função de suas próprias naturezas, os
valores e comportamentos baseados neles também são mutáveis. O que hoje se
considera crime, punível por lei com a mais severa das punições e faz com que
seus praticantes sejam privados de certos direitos concedidos a outros,
torna-se permissível amanhã ou até louvável e aquele que se opõe torna-se
"politicamente incorreto." Essa mudança de um ponto de vista para o seu oposto,
como resultado do afastamento da sociedade de valores religiosos inatos, é uma
ocorrência frequente. Entretanto, por mais ignorante que uma sociedade
tradicional seja, ela ou muitos de seus membros, manterão alguns valores
inatos; mas quanto mais uma sociedade penetra no secularismo, menor será a
quantidade desses indivíduos e mais marginal será a influência deles, até que a
sociedade coletivamente se rebele contra aqueles valores religiosos inatos que
costumava manter.
Pode haver outra razão para
algumas culturas Jahili[1] tradicionais manterem valores religiosos inatos: podem apelar aos desejos
delas ou representam sua herança cultural e não conflitam com seus desejos.
"E quando são convocados ante Deus e Seu Mensageiro, para que julguem entre eles, eis que um grupo deles desdenha. Porém, se a razão está do lado deles, correm a ele, obedientes."
A relação delas com a verdade é
semelhante à de Satanás, descrita pelo profeta, que a misericórdia e bênçãos de
Deus estejam sobre ele, para Abu Huraira, a quem Satanás tinha aconselhado
recitar Ayat al-Kursi
ao ir para a cama: "Ele lhe disse a verdade, apesar de ser um mentiroso
inveterado."
Sociedades ocidentais
contemporâneas e seculares são os exemplos mais claros da natureza mutante e
contraditória de civilização jahili. De um ângulo vê a cultura e os
valores nos quais ela se apoia como um fenômeno relativo e variável.
Entretanto, de outro ângulo caracteriza alguns valores como valores humanos, se
choca com sua violação e pune severamente os violadores. As fontes desse
problema são dois princípios fundamentais nos quais se apoiam as sociedades
seculares democráticas. O primeiro é o predomínio da maioria como padrão para
o certo e o errado na fala e comportamento; o segundo é o princípio de
liberdade individual. Esses dois princípios necessariamente entrarão em
conflito se não estiverem subordinados a outro princípio que arbitrará entre
eles. O secularismo, por sua própria natureza, rejeita a religião e em sua
forma ocidental não considera fitrah (valores inatos) um critério para o
que é benéfico ou prejudicial para a humanidade. Não tem alternativa, a não
ser fazer desses dois princípios um padrão absoluto para qual comportamento é
permissível e apropriado e qual não é. A contradição e conflito entre esses
dois princípios está se apresentando de forma clara em algumas das questões
acirradas atuais, nessas sociedades. Aqueles que advogam a aceitação da
homossexualidade e a concessão a homossexuais declarados direitos e
oportunidades iguais em todos os aspectos da vida, inclusive serviço militar,
baseiam seus argumentos no princípio dos direitos individuais. Entendem que
ninguém tem o direito de se preocupar com o que chamam de "orientação sexual."
O mesmo argumento é usado por quem apoia o aborto. Ouve-se frequentemente, com
incredulidade: "Como podem me proibir da liberdade de escolha em minhas
próprias questões e sobre meu próprio corpo? Que direito as autoridades têm de
se envolverem em assuntos pessoais?" O único argumento que seus oponentes podem
apresentar é que esse comportamento contradiz os valores mantidos pela maioria
da população. Mesmo que a base para a oposição de muitas pessoas ao aborto
seja moral ou religiosa, não podem dizer isso abertamente, nem podem empregar
argumentos religiosos ou morais, uma vez que a sociedade secular não considera
nenhum deles aceitável. Se aceitarmos que não há base para valores, exceto os
individuais ou a opinião majoritária e que, portanto, é possível que todos os
valores mudem de uma época para outra e de uma sociedade para outra, isso
significa que não há conexão entre valores e o que beneficiará ou prejudicará
as pessoas em suas vidas materiais e espirituais. Por sua vez, isso significa
que todos os valores são igualmente válidos e não importa quais uma determinada
sociedade aceita ou rejeita. Entretanto, isso significa que todos os
comportamentos considerados abomináveis pelas sociedades seculares hoje, como o
abuso sexual de crianças e o estupro de mulheres, e para os quais existem
punições sérias, são considerados repulsivos somente por causa da inclinação
atual, mas que isso pode mudar amanhã. Assim, certos crimes sérios podem se
tornar aceitáveis, com base no princípio da liberdade individual. A razão pela
qual um secularista fica confuso com certas perguntas é que sua repugnância em
relação a certos crimes não é realmente baseada nesses dois princípios, que se
tornaram as únicas bases aceitas para argumento nas sociedades dominadas pelo
secularismo; a razão real são resquícios de sentimentos morais da natureza
original que Deus lhe concedeu e que permanecem apesar de seu secularismo.
Talvez a confusão do secularista aumentasse se lhe perguntassem por que razão
deu precedência a esses valores democráticos, até torná-los o padrão por meio
do qual todos os outros valores e comportamentos são julgados. Se disser que
sua reverência por eles se baseia meramente em preferência e inclinação
pessoais vigentes ou em chauvinismo cultural, não terá resposta a quem se opõe
a ele com base em suas preferências pessoais contraditórias ou porque as normas
de sua sociedade diferem das do outro. A fundação inconsistente de valores em
sociedades seculares as torna propensas a se voltarem contra todos os valores
que abraçam atualmente. Também abre caminho para que incorram em suas práticas
de ocupação e colonização de nações mais fracas. Não há nada que as impeça de
fazê-lo, se uma delas anunciar que existe um benefício nacionalista a ser
obtido e um grande número de cidadãos acreditar. Sua proposta política se
torna política oficial, com base no padrão da aprovação da maioria. Entretanto,
como se pode ver, uma aprovação baseada em nada além de ganância. Essa tem
sido a justificativa para todas as transgressões na história. De fato, é a
base sobre a qual qualquer animal ataca outro. Liberdade pessoal e governo da
maioria não são, então, os valores fundamentais nos quais a cultura secular se
baseia. Porque liberdade implica em escolha, mas não é o critério para essa
escolha. Quero dizer que quem recebe a liberdade de escolher precisa de um
padrão que possa usar como critério para sua escolha. Da mesma forma, a
opinião da maioria não é em si o padrão; é meramente o resultado de muitas
escolhas individuais feitas com base em algum padrão. Então, qual é a base
para as escolhas de um indivíduo e uma sociedade livres no sistema secular? É,
sem a menor dúvida, caprichos e desejos que tomaram o lugar da Divindade real.
[1] É uma combinação de opiniões,
ideias e práticas que desafiam e rejeitam a orientação enviada por Deus por
meio dos profetas.
Ayat al-Kursi é o versículo 255 do segundo capítulo
do Alcorão.