Abraão ficou em Canaã por vários anos indo de cidade em
cidade pregando e convidando as pessoas para Deus até que a fome fez com que
ele e Sara migrassem para o Egito. No Egito estava um faraó despótico que
tinha um desejo passional de tomar posse de mulheres casadas.[1]
Esse relato islâmico é surpreendentemente diferente das tradições
judaico-cristãs, que dizem que Abraão alegou que Sara era sua irmã para se
salvar do Faraó.
O Faraó levou Sara para seu harém e honrou Abraão por isso,
mas quando sua casa foi atingida por várias pragas ele soube que Sara era
esposa de Abraão e o castigou por ele não ter lhe dito isso, banindo-o do
Egito. [4]
Abraão sabia que Sara
atrairia sua
atenção, então disse a ela que se o Faraó perguntasse, ela dissesse que
era
irmã de Abraão. Quando entraram
em seu reino, como esperado, o Faraó perguntou sobre seu relacionamento
com
Sara e Abraão respondeu que ela era sua irmã. Embora a
resposta tenha aliviado um pouco de sua paixão, ainda assim ele a fez
cativa.
Mas a proteção do Todo-Poderoso a salvou de sua trama.Quando o Faraó
convocou Sara para agir de
acordo com suas paixões doentias, Sara se voltou para Deus em oração.
No momento em que o Faraó se aproximou de Sara, a parte
superior de seu corpo se enrijeceu. Ele chorou para
Sara em desespero, prometendo libertá-la se ela orasse por sua cura!
Ela orou pela cura dele. Mas apenas depois de uma terceira tentativa
fracassada ele
finalmente desistiu. Ao
perceber suas naturezas especiais, ele a deixou partir e a retornou a
seu
suposto irmão.
Sara retornou enquanto Abraão ainda
orava, acompanhada de presentes do Faraó, uma vez que ele tinha se dado conta
de suas naturezas especiais, junto com sua própria filha Agar, de acordo com as
tradições judaico-cristãs, como criada. Ela havia transmitido uma mensagem
poderosa para o Faraó e os egípcios pagãos.
Depois de retornarem para a Palestina,
Sara e Abraão continuaram sem filhos, apesar das promessas divinas de que ele
teria um filho. O costume da
esposa estéril presentear o marido com uma criada para gerar descendência parece
ser uma prática comum daquela época,
e Sara sugeriu a Abraão que ele tomasse Agar como sua concubina. Alguns estudiosos cristãos dizem que de fato
ele a tomou como esposa.
Qualquer que seja o caso, na tradição judaica e babilônica
qualquer descendência nascida de uma concubina seria reivindicada pelo ex-ama
da concubina e seria tratada exatamente como uma criança nascida dela, inclusive em questões de
herança. Enquanto estava na Palestina, Agar deu a ele
um filho, Ismael.
Abraão em Meca
Quando Ismael estava sendo amamentado
Deus escolheu testar a fé de seu amado Abraão e ordenou-o levar Agar e Ismael
para um vale deserto de Beca a 1.300 km ao sul de Hebron. Tempos mais tarde se chamaria Meca. De fato
era um grande teste, porque ele e sua família tinham esperado por muito tempo
por uma descendência e quando seus olhos estavam cheios de alegria por causa de
um herdeiro, veio a ordem para levá-lo para uma terra distante, conhecida por
sua aridez e dificuldade.
Embora o Alcorão afirme que esse era
outro teste para Abraão enquanto Ismael ainda era um bebê, a Bíblia e as
tradições judaico-cristãs afirmam que foi o resultado da ira de Sara, que pediu
a Abraão para banir Agar e o filho dela quando viu Ismael “debochando” de Isaque[10] depois de ser desmamado. Uma vez que a idade típica para o desmame,
pelo menos na tradição judaica, era de 3 anos,
isso sugere que Ismael estava com aproximadamente 17 anos[12] quando esse evento ocorreu. Parece logicamente impossível que Agar fosse
capaz de carregar um rapaz em seus ombros e levá-lo por centenas de quilômetros
até que ela alcançasse Paran, só então colocando-o no chão, como diz a Bíblia,
sob um arbusto. Nesses versos Ismael é tratado por uma palavra
diferente da usada descrevendo seu banimento. Essa
palavra indica que era um menino muito novo, possivelmente um bebê, ao invés de
um rapaz.
Então Abraão, após ter ficado um tempo
com Agar e Ismael, deixou-os lá com um cantil de água e uma bolsa de couro
cheia de tâmaras. Quando Abraão começou a caminhar
deixando-os para trás, Agar ficou ansiosa com o que aconteceria. Abraão não olhou para trás. Agar o seguiu: “Ó Abraão, onde estás indo,
deixando-nos nesse vale onde não existe nenhuma pessoa cuja companhia possamos
desfrutar, nem qualquer outra coisa?”
Abraão apressou o passo. Finalmente Agar perguntou: “Foi Deus Que pediu que o fizesse?”
Repentinamente Abraão parou, se voltou
e disse: “Sim!”
Sentindo um pouco de conforto nessa
resposta, Agar perguntou: “Ó Abraão, com quem está nos deixando?”
“Eu os deixo aos cuidados de Deus”, respondeu Abraão.
Agar se submeteu a seu Senhor:
“Estou satisfeita em estar com Deus!”[14]
Enquanto voltava para o pequeno Ismael,
Abraão prosseguiu até que alcançou uma passagem estreita na montanha onde eles
não podiam vê-lo. Ele parou lá e invocou Deus em
oração:
“Ó Senhor nosso, estabeleci parte da minha descendência em um vale inculto perto da Tua Sagrada Casa para que, ó Senhor nosso, observem a oração; faze com que os corações de alguns humanos os apreciem, e agracia-os com os frutos, a fim de que Te agradeçam.”
Logo a água e as
tâmaras acabaram e o
desespero de Agar aumentou. Incapaz
de saciar sua sede ou amamentar seu pequeno bebê, Agar começou a
procurar por
água. Deixou Ismael sob uma
árvore e começou a escalar o declive rochoso de uma colina próxima.
“Talvez exista uma caravana de passagem”, pensou consigo mesma. Ela
correu entre as duas colinas de Safa e
Marwa sete vezes procurando sinais de água ou ajuda, personificado
depois por
todos os muçulmanos no Hajj. Exausta
e perturbada, ela ouviu uma voz, mas não pode localizar sua origem.
Então, olhando para o vale ela viu um anjo,
que é identificado como Gabriel nas fontes islâmicas, de pé ao lado de Ismael. O anjo cavou o chão com seu calcanhar próximo
ao bebê e a água jorrou. Foi um
milagre! Agar tentou fazer um
reservatório ao seu redor para mantê-lo fluindo e encheu seu cantil.[16]
“Não tema ser negligenciada”, disse
o anjo, “porque esta é a Casa de Deus que será construída por esse menino e
seu pai, e Deus nunca negligencia seu povo.”[17]
Esse poço, chamado Zamzam, continua a jorrar até hoje na
cidade de Meca na Península Arábica.
Não muito tempo depois a tribo de
Jurham, deslocando-se do sul da Arábia, parou no vale de Meca depois de ver um
sinal incomum de um pássaro voando em sua direção, que só podia significar a
presença de água. Finalmente se estabeleceram em Meca
e Ismael cresceu entre eles.
Um relato semelhante
desse poço é dado
na Bíblia em Gênesis 21. Nesse relato, a razão para se
afastar do bebê era evitar vê-lo morrendo ao invés de buscar ajuda.
Então, após o bebê começar a chorar de sede, ela pediu a Deus para
não permitir que ela o visse morrer. É dito que o
surgimento do poço foi uma resposta ao choro de Ismael, e não à súplica
dela, e
não é relatado nenhum esforço de Agar para encontrar ajuda. A Bíblia
também diz que o poço era no deserto de Paran, onde moraram
depois disso. Os estudiosos judaico-cristãos com
frequência mencionam Paran como em algum lugar ao norte da Península do
Sinai,
devido à menção ao Monte Sinai em Deuteronômio 33:2. Arqueólogos
bíblicos modernos, entretanto, dizem que o Monte Sinai é de fato na
atual
Arábia Saudita, o que requer que Paran seja lá também.[18]
[2] Embora Sara
fosse sua meia-irmã de acordo com Gênesis 20:12, fazendo com que seu casamento
fosse incestuoso, fontes islâmicas como al-Bukhari, afirmam que essa foi uma
das três vezes nas quais Abraão fez uma declaração enganosa, já que Sara era
sua irmã na fé e na humanidade, para evitar um mal maior.
[3] Além das
tradições, uma história menos detalhada também é mencionada na Bíblia, Gênesis.12.11-20.
[4] Sarah
(Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph
Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S).
Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard
Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica).
Ver também Gênesis: 12:14-20.
[5] Sarah
(Sara). Emil G. Hirsch, Wilhelm Bacher, Jacob Zallel Lauterbach, Joseph
Jacobs e Mary W. Montgomery. (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=245&letter=S).
Abraham (Abraão). Charles J. Mendelsohn, Kaufmann Kohler, Richard
Gottheil, Crawford Howell Toy. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica).
[6] Pilegesh.
Emil G. Hirsch and Schulim Ochser. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia
Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=313&letter=P&search=pilegesh).
[7] (http://whosoeverwill.ca/womenscripturehagar.htm,
http://www.1timothy4-13.com/files/proverbs/art15.html).
[8] (http://www.studylight.org/com/acc/view.cgi?book=ge&chapter=016).
[9] Gênesis
21:9.
[10] Ishmae
(Ismael)l. Isidore Singer, M. Seligsohn, Richard Gottheil e Hartwig
Hirschfeld. The Jewish Encyclopedia (Enciclopédia Judaica). (http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=277&letter=I).
[11] 2Mac 7:27,
2 Crônicas 31:16.
[12] Abraão
estava com 86 anos no nascimento de Ismael (Gênesis:16:16), e 100 anos no
nascimento de Isaque (Gênesis 21:5).
[13] Gênesis
21:15.
[14] Saheeh
Al-Bukhari.
[15]
[16] Relato
semelhante é mencionado na Bíblia, embora seus detalhes sejam bem diferentes.
Ver Gênesis 21:16-19
[17] Saheeh
Al-Bukhari
[18]Is Mount SINAI in the SINAI? (O Monte
SINAI Fica no SINAI? Em tradução livre) B.A.S.E. Institute. (http://www.baseinstitute.org/Sinai_1.html).