Outro bem que vem do sofrimento é que a alma é
purificada por meio dele. O profeta Muhammad declarou:
"Por Aquele em Cuja Mão está a minha alma (ou seja, Deus), nenhum crente é atingido pela fadiga, exaustão, preocupação ou sofrimento, nem que seja o espetar de um espinho, sem que Deus o perdoe por alguns de seus pecados."
Algumas pessoas descrevem um sentimento de azia quando
sofrem. A nível físico, pode ser apenas um refluxo gástrico trazido pelo
estresse e ansiedade, mas a nível simbólico representa o coração espiritual
queimando os pecados como uma fornalha poderosa. Quando um crente é afligido
com sofrimento, Deus expia alguns de seus pecados como misericórdia. Como
consequência, aquela pessoa não será punida por aqueles pecados na outra vida
e, portanto, estará na direção do paraíso.
Talvez um cético possa se perguntar por que Deus não
perdoa simplesmente Seus servos, sem afligi-los com sofrimento nessa terra ou
na outra vida. A resposta a isso é que Deus de fato perdoa todo e qualquer
pecado, desde que Seu servo vá a Ele penitente e buscando Sua graça e perdão.
O homem que vai a Deus em busca de perdão, Deus perdoará sem qualquer punição
ou retribuição. Deus eliminará seus pecados como se nunca tivessem
acontecido. De acordo com o profeta Muhammad, quem se volta para Deus em
penitência será perdoado "mesmo que seus pecados sejam tantos quanto as ondas
do oceano, tão numerosos quanto os grãos de areia, tão pesados quanto as
montanhas, tantos quanto as gotas de chuva e as folhas em todas as árvores."
Deus perdoa quem busca Seu perdão porque Ele ama os
crentes que são humildes perante Ele, que se penitenciam diante Dele e cujos
corações lamentam por desobedecê-Lo. O Alcorão diz:
"Deus ama os que se arrependem."
Mas e aquele que peca e nunca pede o perdão de Deus? O
que continua a pecar sem planos de parar? Deus não deixa que todos os pecados
fiquem impunes porque isso faria as pessoas se tornarem negligentes e más. A
aplicação da punição sobre esses pecadores é para o próprio benefício deles,
assim como a aplicação da punição de um pai sobre seu filho é para o próprio
benefício da criança. Por exemplo, um menino de seis anos coloca o dedo em uma
tomada elétrica. O pai, temeroso que o menino se eletrocute, o pune por isso.
Um pai ameaça punir seu filho somente como benefício para a criança, mesmo que
a criança recalcitrante possa ser muito imatura para perceber que a punição
seja resultado do amor e preocupação de seu pai. Se a criança coloca o dedo na
tomada, será ela - não o pai -, que será eletrocutada. Da mesma forma, se
pecamos, fazemos isso em nosso próprio detrimento e a glória de Deus não é
afetada. A punição mundana é, portanto, um meio, não um o fim. O objetivo da
punição não é punir, mas servir como um forte impedimento.
Se um pai é muito leniente com seu filho e não diz nada
quando a criança coloca o dedo na tomada, então o menino não se dará conta da
gravidade do que está fazendo. Continuará a repetir o ato até que um dia será
eletrocutado e morrerá. Da mesma forma, se Deus não envia aflição a Seus
servos eles podem não se dar conta do erro em seus estilos de vida até que
alcancem a morte espiritual. Por exemplo, o marido mulherengo pode nunca se
dar conta de que suas indiscrições um dia levarão ao rompimento de sua família,
o jogador compulsivo pode não perceber que seu vício levará a falência e o
alcoólatra pode não enxergar que sua bebedeira levará a uma vida de miséria e
vazio. Então Deus envia punições a essas pessoas, não só para expiar seus
pecados, mas também para alertá-las e despertá-las.
Imagine a criança que sabe que seus pais não farão nada
se for pega com drogas. Seria negligência parental e levaria a criança a se
prejudicar sem medo de repercussões. Portanto, um pai responsável estabelecerá
certas diretrizes para que a criança saiba que se for pega com drogas, será
punida. Isso faz com que a criança se mantenha afastada das drogas por medo da
punição. De forma semelhante, a criação do inferno - embora seja uma punição -
também é uma misericórdia para a humanidade, através da qual Deus origina o
bem. O inferno é uma punição com a qual Deus ameaça Seus servos para que temam
a Deus e O obedeçam. Essas pessoas então se tornarão espirituais, virtuosas e
corretamente orientadas. Isso não beneficiará Deus, mas eles se beneficiarão.
Deus não precisa deles, mas eles precisam de Deus em suas vidas.
Mas Deus dá a Seus servos muitas chances e avisos antes
de condená-los ao inferno. Uma analogia é a do policial que pega um motorista
em alta velocidade. A primeira vez que o motorista é pego, o policial dá um
aviso. Na segunda vez, o policial aplica uma multa de R$ 50,00. Na terceira,
uma multa de R$ 300,00. Na quarta vez, tem que cumprir serviços comunitários e
na próxima a carteira de motorista será suspensa, etc. O policial não para o
motorista para benefício próprio, mas sim do próprio motorista, para que não se
envolva em um acidente de trânsito e se machuque. É como a metodologia de
Deus: Ele aflige as pessoas com punições pequenas nessa vida terrena
para que percebam o erro. Em outras palavras, Deus permite que coisas ruins
aconteçam a pessoas boas para puni-las por seus pecados. Essa punição serve
como um alerta para que se corrijam nessa vida e, assim, evitem punição na
outra vida. Certamente um motorista preferirá ser multado em R$ 50,00 a ser
preso. Um crente também preferirá ser punido nessa vida a ser jogado no
inferno na próxima vida.
O que significa é que quando um crente é afligido com algum tipo de calamidade, deve se sentir confortado com o fato de que seus pecados estão sendo perdoados por Deus. Deve saber que Deus o compensará por todos os seus infortúnios e queixas e que Deus é o mais justo! O profeta Muhammad nos contou que Deus compensará Seus servos até pelo ferimento pequeno causado por um espinho. Um crente passando por momentos difíceis não deve nunca ser ingrato com Deus, nem questionar a justiça de Deus, porque Deus compensará a todos na próxima vida. Essa é a promessa de Deus para a humanidade. Um crente que é afligido por testes e tribulações deve se conscientizar que é um dos escolhidos de Deus, a quem Deus ama o suficiente não para punir no inferno, mas a quem Ele deseja purifica nessa vida.